quarta-feira, 5 de setembro de 2007

1. INTRODUÇÃO: O LITERÁRIO E O MUSICAL - UM DIÁLOGO INDECLINÁVEL

«A mulher do orador, tendo aparecido à janela
e apercebendo-se de que havia um homem que duvidava
que o papa fosse o Anticristo, despejou-lhe em cima um vaso cheio de imundícies.
Oh, Céus, a que excessos o zelo da religião leva as damas!»


Cândido, de Voltaire, Cap. III, § 11.


Excitado com as possibilidades abertas pelos estudos interartes, de acordo com as reflexões aduzidas por Claus Clüver (2001), a partir de um novo paradigma nos estudos comparatísticos, que passam a englobar um universo de elementos mais complexo e vasto e que levam em conta, não somente a perspectiva estreita da comparação no plano das obras literárias entre si, mas também do texto literário com outras obras de arte, não tive dúvidas quanto ao campo em que me movimentaria e ao corpus que desejaria recobrir, no âmbito de Literatura Comparada I. A música. A música precedida pela literatura, no tempo e no contexto de produção, mas também a música que, como parte integrante de uma estrutura mais vasta, gerará, e exigirá ela mesma, e a seu tempo, nova literatura. Sem hesitações, decidi-me a empreender um trabalho, que, colocando em diálogo, dentro do possível e praticável, três níveis artísticos – o literário, as artes de palco e a música –, tivesse como objectivo fundamental a conjugação e a articulação comparatísticas da opereta cómica «Cândido», de Leonard Bernstein, uma dentre várias actualizações artísticas posteriores, com a novela filosófica de base «Cândido», de Voltaire, beneficiando do facto de, contínuo consumidor de música clássica e classicizante, já haver tido um prolongado, embora cíclico, contacto com aquela. Era preciso, de igual modo, que o meu trabalho demonstrasse quais os novos pressupostos artísticos e técnicos, retóricos e discursivos, que se encontram num específico processo de transposição intertextual, tendo em conta a necessária tradução interssemiótica, e as estratégias concertadas em decurso na indústria de entretenimento da Broadway, assim como as implicações levantadas pelas expectativas de um ambiente e de um público nova-iorquinos, exigências de uma recepção formada e modelada segundo determinados gostos, apta a submeter-se a determinados cânones e a decanonizar automaticamente produtos mal sucedidos e, por isso mesmo, era preciso que me interrogasse sobre que cedências, que mecanismos reguladores estariam a montante desta adaptação, considerando o período histórico em causa, os anos cinquenta do século vinte.
Pensar em tal trabalho era levar em linha de conta, portanto, os factores e contextos envolventes, a jusante e a montante, daquelas duas produções e não deixar negligenciadas, como domínios indeclináveis nos estudos comparatísticos e no campo dos estudos interartes, algumas das conclusões-prescrições do relatório Bernheimer, quando dá conta dos novos pressupostos que os programas de pós-graduação deverão albergar: «Os fenómenos literários já não são o foco exclusivo da nossa disciplina. Pelo contrário, os textos literários são agora abordados como uma prática discursiva entre muitas outras num campo complexo, movente e muitas vezes contraditório da produção cultural.» Por outro lado, incumbia-me ter suficiente consciência dos processos descritivos que repercutem a reciprocidade das relações entretecidas entre a literatura e a música, ainda que em esquemas, como o «esquema [de Steven Paul Scher (1982)] que (...) não consegue integrar conexões mais complexas do que (....) relações binárias», embora Clüver reconheça que ««Todas as categorias das relações músico-literárias no esquema de Scher, bem como os seus equivalentes nas inter-relações entre as outras artes, são perfeitamente acessíveis a empreendimentos interpretativos. Ilustrações e musicalizações de textos verbais e verbalização de pinturas, danças ou composições musicais, enquanto abordadas como objectos de interpretação, podem ser por sua vez lidas como interpretações, e portanto consideradas portas de entrada para se interpretar os textos a que elas se referem.» Em suma, incumbia-me operar a partir da consciência da obra de arte como texto que deve ser lido e a concepção do texto como em estado de permanente reescrita, no lugar de um texto estável, uma vez que: «Com a ascensão da semiótica, os estudiosos têm-se acostumado cada vez mais a tratar obras de arte como estruturas (usualmente complexas) de signos e a referir-se a esses objectos como «textos», qualquer que seja o sistema sígnico envolvido. Dessa forma, uma dança, um soneto, uma gravura, uma catedral, um filme e uma ópera são todos «textos» a serem «lidos». Assim também uma cédula, um selo postal, um programa de TV e uma procissão religiosa.», Claus Clüver (2001).

28 comentários:

C Valente disse...

Bom fim de semana
Saudações amigas

fiordalen disse...

de lo unic que estoy seguro, es que tienes un buen de blogs, no tenias que haber dejado un comentario tan grande ya que yo visito todos los blogs de los que me visitan, pero tu tienes muchos

Streetart WSR disse...

Thanks.

Streetart WSR disse...

Thanks. :-)

GS disse...

Sim, concordo todo o tipo de partitura musical é um texto!

Concordo também que a música precedeu a literatura...

E uma obra literária poder conter musicalidade!

Lembro ter feito há uns tempos um trabalho sobre música e literatura. Podem ser indissociáveis. São-nos tantas vezes!

Volaire... 'Candide'! Li em meu tempo de faculdade!

Gostei de vir até aqui...

My Art disse...

Thank you very much! I appreciate it.
I am still working on it. You're welcome to visit my blog anytime.
By the way your blog looks nice as well.

Unknown disse...

gracias Joshua por tu visita, me alegra que te Spider-man tanto como a mí, y espero me sigas visitando, yo soy de Chile, se despide tu amigo Optimus Prime.

Adiós.


thanks Joshua for you visit, it cheers to me that you Spider-man as much as to me, and I hope to me you continue visiting, I' am from Chile, takes leave your friend Optimus Prime.

Good bye.

Anónimo disse...

Agradezco tu reciente visita a mi blog "Un millón de Segundos" Saludos cordiales, tienes una bitácora de lo más saludable.

disse...

Olá!
Fico feliz que tenha gostado do meu blog!!!
Estou vendo com calma, todos os seus!!!
Muita coisa boa pra eu ler por aqui!
Parabéns!!!
:)

A l a i n disse...

Magnifique votre blog, en plus sur Voltaire!!!
Amicalement
Siam

dfg disse...

te agradesco el saludo y las buena onda


me alegro ke mi laburo te aya gustado todo lo ise yo




hasta luego jesus

dfg disse...

me alego que te allan gustado mi trabajo saluda jesus


toda la obra es mia



estoy orgulloso por su variedad



saluda jesus

tolilo disse...

Joshua,

como tens tempo para tantos blogues?

Chuac!_

Trutzy disse...

Ciao! Cerco di capire cosa hai scritto!

Emanuel Azevedo disse...

Parabéns pelo teu blog, tens grandes veias artísticas.

Unknown disse...

Good good good......

Phivos Nicolaides disse...

Hola. Salutos, Felipe from CYPRUS www.taxidiaris.blogspot.com

Anónimo disse...

- IMPORTANTE -

"Tempo ceifado"

Ao espírito de Eloá,

lá no blogue.


Ana

-> Belo blogue. Identifiquei-me bastante.

Ácido Cloridrix HCL disse...

Como diria Voltaire: "A paixão de dominar é a mais terrivel de todas as doenças do espirito humano"!!!! HCL

MS disse...

'Candide' mordaz... bem ao jeito de Voltaire!

Da literatura... da música... autores houve que dissertaram sobre: Roland Barthes, Jorge de Sena. Conheces certamente!

Sensibilizada pelo olhar em 'fragmentos'!

Jonnette disse...

thanks for the kind words on my blog. they made my day!

Unknown disse...

Ola

obrigado pela visita e pelo comentario elogioso, é sempre bom sabermos que alguem gosta do que fazemos.

Eu passarei por cá mais vezes e espero que passe para ver a minhas novidades

boa semana

carla

http://www.arte-e-ponto.blogspot.com

ihatecamera disse...

Hi!
Thank you for visit my blog. Your blog is so fantastic.Hope you enjoy my blog,too.

Unknown disse...

Ola
tudo bem?
espero que sim

gostava que fosse a

www.avanessaguerradesafio.blogspot.com

e que votasse na minha tela

beijinhos

Carla Cunha

~ R ~ disse...

Feliz día de Reyes, espero que te hayan regalado muchas cosas. Expresiones.

foodbynil disse...

ı dont undersatnd so ıcant help you I'm sorry

... disse...

Devolvo a visita, "vemo-nos" no twitter
http://aoutravarinhamagica.blogspot.com/

alex disse...

Encontrei-te a comentar no Rei dos Leitões ,decidi conhecer-te melhor acho que me perdi e encontrei várias vezes no meio das tuas inúmeras palavras.Adorei.Voltarei sempre.Entretanto ofereço-me como voluntária para lutar ao teu lado no teu exercito vermelho.
Até sempre, camarada.